Certo dia, eu procurava macacos perto de uma área popularmente conhecida como Reserva Florestal Novo Milênio, município de Camamu – BA e econtrei o seu João, que é este homem que eu converso na foto acima. Até hoje me lembro como se fosse ontem o dia que eu entrei em sua propriedade, como eu e o grupo que andava comigo (Cambará, Rafael, Mariana e Míriam) estávamos com equipamento de playback, máquinas fotográficas, GPS , cantil e mochilas, o seu João me fez uma pergunta que nunca saiu da minha cabeça:
- Vocês são do Globo Repórter?
- Não. Como é seu nome?
- João.
- Somos pesquisadores e procuramos por macacos, estamos desenvolvendo um trabalho para ajudar na preservação dos macacos da região.
Seu joão era um sujeito incrível, ele tinha nascido la e criado toda a sua família, já tinha filhos grandes e depois que ficou sabendo do nosso trabalho falou de várias histórias que teve na sua pequena terra.
- Criei todos os meus filhos aqui nessa beira de grota, só que agora ta complicado.
- Por que seu João?
- Como os terrenos aqui na área são muito cheio de quedas, tão querendo tirar todo mundo daqui pra fazer uma usina pra gerar energia. Vão acabar com a cachoeira e tirar agente daqui.
Gerar energia! Hoje quando eu penso em energia, sempre me lembro do seu João e toda a sua família. Meninos pelados na beira do córrego, o filho pequeno com vontade de ir até na cachoeira, mais como não sabe nadar fica só imaginando o dia que irá chegar até ela, sua esposa lavando trouxas e trouxas de roupa e logo depois chamando as crianças para irem para casa que já estava tarde, as noites e tardes de pescaria entre seu João, amigos e compadres, as brincadeiras da mulequada no pequeno sítio, as passarinhadas nos domingos e a marcação na baladeira de quantos pássaros foram abatidos, as rodas de fogueiras à noite para se protegerem do frio, os carrinhos de plásticos no dia das crianças e o seu amor pelos bichos que visitavam a sua propriedade como os macacos sagüis. Macacos estes que todas as vezes que o seu João chamava, eles apareciam. Os cachorros começavam a latir e as crianças faziam a festa. Seu João então começava:
- Nico nico nico nico nico nico...
Os sagüins apareciam e começava a festa, ele os alimentava e conversava com agente com muita alegria, como se nunca ninguém tivesse se preocupado com o destino daquela família e dos sagüis. O projeto esta pronto pra ser aprovado, a pequena hidrelétrica iria gerar mais energia pra sociedade ali perto.
Gerar energia! Hoje em dia muita gente fica com raiva com aquele download que não terminou por que houve uma queda de energia, muita gente já ouviu “bronca” por deixar a TV desligada em stand by ou por não ter desligado o stand by ou ainda, por ter deixado a TV ligada sem ninguém assistindo, à luz faltou justamente naquela hora que você estava estudando para a prova no dia seguinte. Você esqueceu de trocar a lâmpada do banheiro e agora tem que tomar banho ou fazer necessidades fisiológicas no escuro, e quando falta energia na hora daquele jogão na Rede Globo? É complicado. Ta calor! Ainda bem que existem os ventiladores e ar-condicionado, o liquidificador funciona para fazer aquela vitamina que só você sabe fazer e a máquina de lavar ajudou de forma significativa o serviço das empregadas, mais detonou aquela sua camisa que você tanto gostava mais que não podia ser lavada na máquina. Segundo a Aneel, até o dia 18 de Agosto de 2010, as nossas hidrelétricas geram 67,31% de toda energia consumida no país, com 863 hidrelétricas instaladas. Levando em consideração que temos um litoral de 7.408 quilômetros de extensão e que temos ventos ao longo de todo o ano, a energia eólica gera apenas 0,67 % da energia consumida no país. Importarmos do Paraguai 5,46 % da energia que consumimos, 2,17 % da Argentina, 0,19 % da Venezuela e 0,07 do Uruguai. No último filme do boxeador Rocky Balboa interpretado por Sylvester Stallone tem uma cena que me chamou atenção, o Rocky estar recordando um lugar que ele viveu e diz:
- Quando você vive muito tempo em um lugar, acaba se tornando este lugar.
Enquanto aquela camisa ficou danificada na máquina de lavar, o stand by da TV ficou ligado, você deixou de ouvir a voz do Galvão Bueno por alguns minutos e aquela vitamina ficou pronta. Eu tenho certeza que o seu João estar muito mais preocupado do que todos nós. Não deve ser fácil, ceder o local que nasceu, morou e criou sua família, para fazer pessoas passarem raiva ou não valorizarem a energia que tem a quilômetros de distância.
- Vocês são do Globo Repórter?
- Não. Como é seu nome?
- João.
- Somos pesquisadores e procuramos por macacos, estamos desenvolvendo um trabalho para ajudar na preservação dos macacos da região.
Seu joão era um sujeito incrível, ele tinha nascido la e criado toda a sua família, já tinha filhos grandes e depois que ficou sabendo do nosso trabalho falou de várias histórias que teve na sua pequena terra.
- Criei todos os meus filhos aqui nessa beira de grota, só que agora ta complicado.
- Por que seu João?
- Como os terrenos aqui na área são muito cheio de quedas, tão querendo tirar todo mundo daqui pra fazer uma usina pra gerar energia. Vão acabar com a cachoeira e tirar agente daqui.
Gerar energia! Hoje quando eu penso em energia, sempre me lembro do seu João e toda a sua família. Meninos pelados na beira do córrego, o filho pequeno com vontade de ir até na cachoeira, mais como não sabe nadar fica só imaginando o dia que irá chegar até ela, sua esposa lavando trouxas e trouxas de roupa e logo depois chamando as crianças para irem para casa que já estava tarde, as noites e tardes de pescaria entre seu João, amigos e compadres, as brincadeiras da mulequada no pequeno sítio, as passarinhadas nos domingos e a marcação na baladeira de quantos pássaros foram abatidos, as rodas de fogueiras à noite para se protegerem do frio, os carrinhos de plásticos no dia das crianças e o seu amor pelos bichos que visitavam a sua propriedade como os macacos sagüis. Macacos estes que todas as vezes que o seu João chamava, eles apareciam. Os cachorros começavam a latir e as crianças faziam a festa. Seu João então começava:
- Nico nico nico nico nico nico...
Os sagüins apareciam e começava a festa, ele os alimentava e conversava com agente com muita alegria, como se nunca ninguém tivesse se preocupado com o destino daquela família e dos sagüis. O projeto esta pronto pra ser aprovado, a pequena hidrelétrica iria gerar mais energia pra sociedade ali perto.
Gerar energia! Hoje em dia muita gente fica com raiva com aquele download que não terminou por que houve uma queda de energia, muita gente já ouviu “bronca” por deixar a TV desligada em stand by ou por não ter desligado o stand by ou ainda, por ter deixado a TV ligada sem ninguém assistindo, à luz faltou justamente naquela hora que você estava estudando para a prova no dia seguinte. Você esqueceu de trocar a lâmpada do banheiro e agora tem que tomar banho ou fazer necessidades fisiológicas no escuro, e quando falta energia na hora daquele jogão na Rede Globo? É complicado. Ta calor! Ainda bem que existem os ventiladores e ar-condicionado, o liquidificador funciona para fazer aquela vitamina que só você sabe fazer e a máquina de lavar ajudou de forma significativa o serviço das empregadas, mais detonou aquela sua camisa que você tanto gostava mais que não podia ser lavada na máquina. Segundo a Aneel, até o dia 18 de Agosto de 2010, as nossas hidrelétricas geram 67,31% de toda energia consumida no país, com 863 hidrelétricas instaladas. Levando em consideração que temos um litoral de 7.408 quilômetros de extensão e que temos ventos ao longo de todo o ano, a energia eólica gera apenas 0,67 % da energia consumida no país. Importarmos do Paraguai 5,46 % da energia que consumimos, 2,17 % da Argentina, 0,19 % da Venezuela e 0,07 do Uruguai. No último filme do boxeador Rocky Balboa interpretado por Sylvester Stallone tem uma cena que me chamou atenção, o Rocky estar recordando um lugar que ele viveu e diz:
- Quando você vive muito tempo em um lugar, acaba se tornando este lugar.
Enquanto aquela camisa ficou danificada na máquina de lavar, o stand by da TV ficou ligado, você deixou de ouvir a voz do Galvão Bueno por alguns minutos e aquela vitamina ficou pronta. Eu tenho certeza que o seu João estar muito mais preocupado do que todos nós. Não deve ser fácil, ceder o local que nasceu, morou e criou sua família, para fazer pessoas passarem raiva ou não valorizarem a energia que tem a quilômetros de distância.
Poxa, a história desse seu João fez eu refletir aqui que as vezes nossos problemas são muito pequenos em relação a alguns problemas dos outros.
ResponderExcluirPara se ler e pensar que enquanto nós pensamos que os nossos problemas fúteis são os piores, há muitos outros de proporções muito maiores que os nossos por ai a espera de uma resolução.
ResponderExcluirVocê têm razão. Um mundo onde tudo está conectado mas as coisas e as pessoas permanecem tão o mais distantes quanto estavam. Boa parte de nossa energia, não só elétrica e também outros recursos dependem de outras pessoas tão distantes. Tudo sempre esteve conectado de alguma forma mas agora isto é fortíssimo. E o caso do seu João? Precisamos de energia, isso é inevitável, existem outros como ele, existirão mais. O que está errado afinal? Belo Monte vem aí, trazendo soluções e muitos problemas para muitos Joões, Josés e Touros Sentados, problemas que existem aqui, na china, no primeiro mundo e por aí vai... Como resolver isso?
ResponderExcluirA primeira coisa é mudar a matriz energética do país. Praticamente toda energia que agente consome vem de hidrelétricas. Quando passar outro período sem chuvas e afetar na distribuição de energia, vamos botar a culpa em São Pedro outra vez?
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