terça-feira, 27 de julho de 2010

Invenções Revolucionarias


Bem, quando se anda de avião independente para onde se vá, chega uma parte da viagem que a imagem da janela é sempre a mesma, essa que ta na foto ai a cima. A alguns dias foi noticiado em vários telejornais uma punição pesada sobre os aviões que pousam no aeroporto de Guarulhos, as empresas teriam que plantar 3 bilhões de árvores para compensar os gases poluentes que os aviões emitem ao pousar e levantar vôo. Esse fato fez eu me recordar de uma viagem que eu fazia entre a capital da Argentina, Buenos Aires e a capital do Brasil, Brasília. Eu tinha acabado de comer um lanche nada nutritivo onde a aeromoça nos ofereceu refrigerante, água ou suco de uva na caixinha junto com um bolo de chocolate que não tinha gosto de chocolate e uns pães de queijo que pela cara, pareciam que estavam guardados há umas duas semanas. Certo tempo depois o piloto se apresenta mais uma vez e fala em inglês, espanhol e depois em português que estávamos a onze mil pés de altura e que o tempo estava bom. Foi quando eu senti uma dor de barriga violenta, fiquei paralisado na poltrona estreita, pois qualquer movimento brusco faria aumentar os meus movimentos peristálticos do final do tubo digestório e...falando no bom português, “eu ia soltar um barro!!!”. Mais pelo que eu tava sentindo e “prevendo” não iria ser barro, mais um verdadeiro mingau. Comecei a suar frio, levantei. Nessa hora minha namorada pergunta:
- Emílio tu vai aonde?
-Vou dar uma cagada agora.
- Meu Deus! Ela diz.
Fui andando a passadas curtas, a barriga doendo cada vez mais, o suor esfriava mais ainda na minha testa por causa do ar condicionado, e o chiclete que eu mastigava para proteger o zumbido no ouvido por causa das turbinas já não tinha mais gosto de nada. Chegando a porta do banheiro no final do corredor do avião dei de cara com a porta trancada. Sentei numa poltrona que estava vazia perto do banheiro: “Meu Deus do céu, e agora?” Como eu estava um pouco mais perto do céu, achei que Deus ouviu minha prece, pois logo em seguida saiu do banheiro um homem gordo de terno e eu sem perder tempo entro no banheiro. Ainda tive tempo de forrar a tampa do vaso com papel higiênico antes de sentar no maravilhoso trono. Sentei, respirei fundo, parei de respirar e comecei “a obra”. E foi uma obra demorada, parecia que não tinha fim, nesse tempo pensei em duas coisas. Primeiro, Santos Dumont é considerado, a controversas, o primeiro elemento a construir um avião e voar, isso aconteceu em Paris em 1901, a segunda coisa que me veio na cabeça foi: “Quem inventou o vaso sanitário? Não tenho a menor idéia”. Seja o avião ou o vaso sanitário, são duas invenções importantíssimas para a humanidade. Quantas vezes um avião salvou centenas de milhares de pessoas da morte? Transportando doentes de um local a outro com extrema velocidade? E quantas vezes um vaso salvou pessoas de morrer não fisicamente, mais de vergonha e moralmente? Sai do banheiro e retornei a minha poltrona. Minha namorada diz:
- Eita, que o negócio foi pesado, heim?
Eu respirei profundamente e soltei a respiração bem devagar, ainda não estava totalmente confortável. La no fundo eu sentia que o pesadelo não tinha acabado. Eu fechei os olhos e procurei relaxar, foi quando o piloto falou em inglês, espanhol e depois em português para apertarmos os cintos e colocar as poltronas no ângulo de 90 graus. O avião estava se preparando para pousar foi quando veio uma dor de barriga mais forte que a primeira vez, pois se intensificava com o frio na barriga que sentimos quando o avião começa a perder altura. A aeromoça já estava no final do corredor com seu cinto de segurança em forma de “X”, quando ela me viu chegando perto dela ela me diz:
- Senhor, não pode ficar em pé no avião durante a descida. Ela me fala isso em espanhol.
- Eu preciso ir ao banheiro. Eu também respondo em espanhol.
- Aguarde a descida, o avião irá pousar em alguns minutos.
Eu olhei para uma janela perto e vi o avião atravessando nuvens, respirei fundo e sentei na mesma poltrona vazia que eu havia sentado a pouco tempo. Coloquei o cinto e pensei: “Caramba, eu vou me cagar todinho em alguns segundos”. Nesse momento eu fui até o banheiro e a aeromoça fechou a cara e disse com o tom mais alto de voz:
- Senhor, não pode ficar em pé no avião durante a descida. Mais uma vez em espanhol.
- Se tu não abri esse banheiro eu vou cagar em cima de ti agora. Dessa vez eu falei em português, mais acho que ela entendeu.
Eu entrei, e quando o avião aterrissava, eu também aterrissei (não deu tempo de forrar o vaso). Quando o avião fez o revez das turbinas, momento esse que faz muito barulho, eu também fiz muito, mais muito barulho mesmo. Nunca tinha visto tanta pressão como naquele dia. Minutos depois quando eu abro a porta do banheiro, só vejo minha namorada segurando meu blusão, não tinha mais nenhum passageiro a bordo. Finalmente eu estava em Brasília. Hoje o mundo tem pouco mais que 6 bilhões de habitantes, destes metade não tem sistema de esgoto, isso quer disser que uns 3 bilhões usam o vaso sanitário. Quando um desses três bilhões der uma descarga vão 7 litros de água pelo ralo junto com fezes que do esgoto contaminam rios e o mar. 3 bilhões de descargas mandam 21 bilhões de litros de água pro esgoto. A água doce do planeta ta ficando cada vez mais contaminada e o ar estar ficando cada vez mais poluído. Aviões e vasos sanitários, ambos tem uma parcela de culpa, mais os seus benefícios já não compensam os prejuízos? Se as empresas de avião terão que plantar 3 bilhões de árvores para compensar os danos que os gases liberados pelos aviões causam, qual seria a medida punitiva contra empresas que fabricam vasos? Eu nunca gostei tanto dessas duas invenções como naquele dia. Obrigado Santos Dumont e obrigado quem quer que tenha sido o inventor do vaso sanitário.

sábado, 24 de julho de 2010

Baía de Alcântara


Eudocimus ruber é o nome científico da ave conhecida como Guará , encontrada no norte do Maranhão. Mede cerca de 50 a 60 cm e possui uma cor vermelha devido sua alimentação à base de um caranguejo que possui um pigmento que tinge as plumas. É um tipo de ave que se reproduz em colônias e o ninhal do Maranhão existe uma estimativa de mais de 2.000 casais se reproduzinho. Elas põe em média 2 ovos por ninho, os filhotes nascem marrom e depois ficam vermelhos quando passam a se alimentar do caranguejo. Até hoje no Brasil só foi descoberto 3 locais de nidificação (local onde a ave faz seu ninho). No manguezal dos estados do Amapa, Maranhão e São Paulo. Eu, juntamente com mais dois colegas (Ighor e Rafael ) resolvemos olhar de perto o ninhal de Guará do estado do Maranhão que fica localizado no mangue a 5 km da cidade de Alcântara. Diariamente, partem lanchas de São Luis que atravessam a baía de São Marcos rumo a Alcântara em horários determinados de acordo com a variação da maré. Nesse dia saímos bem cedo, entramos na lancha e aportamos em Alcântara bem cedo. A primeira etapa da viagem estava feita, logo após isso tinhamos que encontrar o “cafezinho” um homem de 1,90 de altura que até hoje eu não sei a razão do apelido no diminutivo. A cidade de Alcântara não é muito grande, e o movimento que se vê sempre são turistas chegando e saindo, começamos a pergutar e rapidamente encontramos “cafezinho”.A importância dele para chegarmos as aves é que ele era pescador e sabia onde o ninhal estava. Acertamos com ele o preço e partimos para a baía de Alcântara. Para chegar ao ninhal teríamos que atravesar a baía de Alcântara que tem uns 5 km de largura, até ai tudo bem, mais quando chegou a embarcação do cafezinho vimos apenas uma canoa com um remo. Eu, Ighor e Rafael nos olhamos e começamos a sorrir (enfrentar 5 km de mar em uma canoa com apenas um remo não era uma idéia muito boa). Eu disse:
- Vamos, o cara é pescador e conhece as maré aqui da região.
Três horas de remadas depois, atravessada a baía, estavamos no meio de um grande manguezal onde milhares de aves estavam sobre nossas cabeças, casais, filhotes, ovos quebrados na lama, urubus tentando entrar no ninhal para capturar filhotes mortos...perfeito. Descemos na lama do mangue e cafezinho foi pescar em outro local, uma hora depois ele voltaria para nos buscar. Ighor encontrou um ovo de Guará na lama antes do cafezinho sair:
- Ighor, guarda na canoa.
- Relaxa, eu levo.
Não sei por que Ighor resolve levar o ovo com ele no bolso da calça. Uma hora depois do meio da lama:
- Rafael que horas são?
- 12:30.
- Vamos, o cafezinho ja deve ter voltado. Nos gastamos 3h para atravessar a baía, se sairmos 13:00 daqui vamos chegar em Alcântara 16:00 e a última embarcação sai para São Luís as 16:30!
Um hora da tarde estamos todos na canoa fedendo a suor e lama, Ighor, alem de lama e suor, estava fedendo a ovo de Guará, pois o ovo que ele não quis guarda na canoa quebrou dentro do seu shorte. Até ai o dia estava perfeito, foi quando o único remo da canoa quebrou.
- Caramba!
- Fudeu.
Cafezinho, nessa hora fala que vai nadar até o mangue, conseguir um galho para poder amarrar no remo para podermos atravessar a baía. Ele pula na água e ficamos na canoa a deriva na baía de Alcântara, nessa hora Rafael estar comendo e me oferece comida:
- quer um pouco?
- não to sem fome. Eu respondo.
- rapaz, se agente morrer, eu pelo menos quero morrer com a barriga cheia.
- olha esse louco! Responde o Ighor.
Um tempo depois cafezinho retorna e amarra um galho ao remo quebrado. Continuamos a atravessiva, derrepente no meio da baía começamos a ver o fundo. Estamos passando em cima de uma “crôa”( um banco de areia imenso no meio da baía). Cafezinho diz:
- Vocês irão descer aqui e caminhar a pé até a borda da crôa do outro lado (perto de Alcântara), eu vou retorna e tirar a canoa antes da maré descer.
- Beleza. Alguem responde.
Cafezinho tinha que tirar a canoa antes da maré baixar, pois com a maré baixa a canoa ficaria encalhada no meio do banco de areia e estavamos mais perto da borda do ninhal do que da borda que ficava voltada para Alcântara. Saimos da canoa e colocamos os pés na crôa com a água na cintura, olhavamos para tras e estavamos a uns 2 km do mangue e olhavamos para frente e estavamos a uns 3 km de Alcântara, do nosso lado mar aberto(é uma sensação boa, pelo menos foi o que eu achei). Quase uma hora depois a maré tinha descido, estavamos sentados na borda da crôa, e nenhum sinal do cafezinho.
- Será que pode ficar pior?
-Cara, a maré começou a subir. Cadê o cafezinho?
Olhavamos para todos os lados e nada do cafezinho, em poucos minutos a maré ja estava no joelho. Olhamos um para o outro, eu falei:
- Ighor, foi um prazer ter te conhecido cara (gargalhadas).
- Foi um prazer também cara (mais gargalhadas)
- Rafael, valeu. Rafael diz sorrindo:
- Foi um prazer.
Quando se estar perto da morte existe vários tipos de reação, nos caímos na gargalhada. Acho que por isso eu lembrei do Coringa, interpretado por Jack Nicholson no filme do Batma de 1989 onde ele morre sorrindo após cair de um prédio. Quando a água estava perto de nossa cintura avistamos um ponto distante no horizonte, era o cafezinho com a canoa. Começamos a correr até ele, entramos na canoa e continuamos. Antes de chegarmos a Alcântara, conseguimos ver a última embarcação partindo. Era quase 18:00 horas quando colocamos os pés em terra firme e pagamos cafezinho. Ighor diz:
- e agora?
Apesar do dia que tivemos, por mais inacreditável que possa ser, a pior parte da viagem viria a noite. O único dinheiro que tínhamos era os da passagem de volta, tinhamos que tomar banho, comer e dormi. Mais aonde? Essa história eu conto outro dia.

sábado, 17 de julho de 2010

O Destino da Humanidade


“Mister Eyem”, é o nome desde senhor no centro da foto, tive a oportunidade de conhecê-lo em sua própria casa que fica numa área de Mata Atlântica perto da cidade de Ilhéus no sul da Bahia. Com mais de 60 anos, nascido na Inglaterra, formou-se em Agronomia e trabalhou por anos no melhoramento de plantas para agricultura comercial no país de Gales. Juntou dinheiro e comprou a área onde vive hoje.
- O senhor tem uma área bem preservada. Eu afirmei a ele.
- Eu separei 50% da minha área para a preservação, nessa área eu não deixo ninguém entrar pra fazer nada só as 481 espécies de aves que eu já identifiquei e os outros animais que estão lá.
- 481 espécies de aves?
- Sim, eu sou apaixonado por aves.
- Por que o senhor separou metade da sua propriedade pra mantê-la intocável?
- Por que o mundo ta se acabando. Agente tem que dar um jeito nisso.
Hoje ao olhar a sua foto, não sei por que mais pensei no que ele faz hoje e o que ele pensaria a respeito de seu próprio futuro em 1967, onde ele era apenas um adolescente. O mundo nunca esteve tão perto do juízo final nesta época. Em 1967 o mundo acompanhou o primeiro transplante de coração realizado na cidade do Cabo na África do Sul pelo médico Christiaan Barnard, infelismente o paciente morreu após alguns dias devido a uma infecção. Nesse mesmo ano, a força aérea israelense lançou um ataque iminente contra Egito e Jordânea num conflito que ficou conhecido como a guerra do seis dias. Falando em guerra, Estados Unidos e URSS travavam uma corrida armamentista nuclear, deixando a humanidade com medo da terceira e ultima guerra mundial, pois o conflito nuclear exterminaria toda a raça humana. Cuba, por sua vez, tentava exportar a sua revolução estimulando a formação de focos guerrilheiros em algumas regiões. Isso levou se maior ícone, Ernesto Che Guevara, a morte na Bolívia em 1967. No meio de todos esses conflitos o pastor negro Martin Luther King lutava para conquistar direitos sociais para os negros, antes de ver seus direitos conquistados ele é assassinado por um extremista branco no ano seguinte. Em junho de 1967 ocorre a primeira transmissão de televisão via satélite e o mundo agora começa a se conectar de uma forma mais rápida. É através dela que todos observam mais ainda o sucesso dos Beatles, banda essa que lança o oitavo álbum em 1967, Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. Que é frequentemente citado como o mais influente álbum da história do rock e da música. Paralelo a esse album, o mundo passa a conhecer no mesmo ano The Piper at the Gates of Dawn da banda britânica Pink Floyd, onde Syd Barrett lideram a banda com letras sobre gnomos, espantalhos e contos de fadas, acompanhadas de passagens instrumentais únicas, o rock psicodélico começou a fazer a cabeça de milhões em todo o mundo. No meio a toda essa mistura de guerras, possível conflito nuclear e extinção da raça humana, órgãos sendo transplantados, personalidades mundiais sendo assassinadas, a guitarra de Syd Barrett hipnotizando milhões, é lançado no ano seguinte: 2001, Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick. Filme que conta a evolução dos hominídeos e é venerado por milhões de pessoas até hoje, mas em 1969 o mundo acompanha através da televisão Neil Armstrong pisar na lua e dizer: “Este é um pequeno passo para um homem, mas um grande salto para a humanidade". O que pensava “Mister Eyem” nessa época a respeito da humanidade?
- “Mister Eyem”, o que o senhor faz hoje para sobreviver?
- Eu planto tudo que eu preciso pra comer. A muitos anos não preciso comprar nenhum alimento, aqui na minha terra tenho frutas, arroz, feijão, legumes. Não preciso comprar nada, e o que sobra minha mulher leva aqui na feira de Ituberá pra vender.
- O senhor é casado?
- Sim, mais minha mulher não estar aqui, está na cidade. Eu não saio aqui da minha terra, tudo que tem que resolver na cidade é ela que vai.
“Mister Eyem” provavelmente passou por todas as etapas de evolução de um hominídeo, nasceu no campo, foi pra cidade, se formou, ganhou dinheiro e conforto, participou de conflitos. Mais como ele voltou a viver no campo, a sua vida não foi necessariamente etapas, mais um ciclo. Estamos em 2010, assim como em 1967 sempre ouvimos frases como: “Como será o mundo daqui a 30,40, 50 anos?”, “estamos no final dos tempos”. Será que estamos passando por etapas ou estamos num ciclo?