quinta-feira, 14 de abril de 2011

Um professor sem forças


O sol estava quente naquele dia, 12:50 do dia pra quem mora na região equatorial do planeta, recebe os raios solares na posição perpendicular, ou seja, os raios infravermelhos (que são os que provocam calor) cai direto em nossas cabeças. Resolvi então ir para a escola no meu carro que eu o chamo carinhosamente de “Batman”. Estacionei de frente a escola, em baixo de uma árvore, saio do carro e percebo duas mulheres sentadas em frente a uma mercearia, as duas conversavam e, como estavam arrumadas eu pensei que fosse professoras ou que trabalhassem na escola, na verdade uma era realmente uma professora e outra fazia parte do quadro de funcionários da escola, eu sentei perto delas e até em tão elas conversavam entre si, como nenhuma me dirigiu a palavra eu resolvi me “entrosar” e puxei assunto:

- Vocês também são professoras ai da escola?

- Eu sim, a outra aqui trabalha na secretaria, é a coordenadora. O senhor é professor?

- Sim, professor de biologia.

- a ta.

Pronto, estava estabelecida a comunicação entre pessoas que seriam colegas de trabalho, conversa vai, conversas vem e diversos assuntos são abordados até a diretora da escola chegar, pois estávamos esperando-a para uma reunião que seria realizada as 13:00 horas. Dentre os assuntos, começamos a falar sobre carros e a utilidades dele em uma cidade onde os termômetros chegam aos 37°C em dias normais, até que sou surpreendido com o comentário da coordenadora:

- Professor, se eu fosse o senhor eu não viria de carro aqui pra escola.

- Por que?

- Uma vez, a professora de geografia veio de carro e os alunos ficaram riscando o carro dela com tampinhas de refrigerante brincando do jogo da velha. O carro ficou todo riscado e ela nunca mais veio de carro pra aqui.

Nessa hora eu fiquei pensativo e tentando me colocar no lugar dessa professora, fiquei imaginando o que eu faria se eu tivesse no lugar dessa professora. Confesso que não tenho a mínima idéia do que eu faria, continuamos conversando e a diretora chega, junto com os demais membros do corpo docente da escola, começo a andar em direção a escola e percebo que tinha deixado a carteira no carro, para no meio da rua e dou meia volta em direção ao carro para pegar minha carteira. Retorno a escola e entrando na sala, faço o que todas as pessoas fazem, pelo menos o que eu acho que todos deveriam fazer, dar boa tarde a todos.

- Boa tarde!

-Boa tarde.

Apenas uma mulher, e justamente a que se encontrava mais distante de mim me dar boa tarde, todo o resto das pessoas na sala estão de caras fechadas. E o pior disso tudo, é que um dia anterior, aconteceu a mesma coisa, eu cheguei e dei boa tarde e a mesma pessoa me respondeu. A reunião começa, ao final ficou decidido que eu e mais alguns professores daria aula, os demais estavam participando da greve dos professores do estado. Detalhe, eu me formei em Ciências Biológicas e fiz o seletivo do estado para lecionar a disciplina de Biologia no ensino médio, chegando à escola, percebo que a realidade é um pouco diferente do que tinha nas linhas do edital do seletivo, eu iria ministrar as disciplinas de Ciências no ensino fundamental ( eu fiz seletivo para lecionar no ENSINO MÉDIO), Química (eu fiz seletivo para lecionar BIOLOGIA) e Biologia (ufa, aleluia!). Por que isso acontece? Sinceramente eu não sei, mais sempre foi assim e pelo visto vai continuar sendo. No dia seguinte, é o primeiro dia de aula, e entro na sala e todos os alunos estão sentados e quietos, penso então em fazer algo para descontrair e quebrar o gelo da turma, falo o seguinte para cada aluno:

- Qual o seu nome?

- Rodrigo.

- Rodrigo, pra turma de conhecer melhor, me diz 3 coisas que tu gosta de fazer.

Eu repito esse procedimento em todos os alunos e percebo que alguns começam a sorrir e aquele clima pesado fica um pouco mais leve, a aula então começa. Como é o primeiro ano do ensino médio, começo a falar sobre o que caracteriza um ser vivo, pois estava dando aula de Biologia. Durante 30 minutos eu peço ajuda da turma para eles me darem exemplos sobre coisas do cotidiano deles, para eu poder construir minha aula com base nas coisas que eles estavam acostumados a ver, e durante 30 minutos eu falo sozinho na sala, parecia mais um monólogo do que uma aula.

- Turma, alguém pode me dizer algo que viu na rua quando vinha aqui pra escola? Qual quer coisa que viram no caminho de casa até aqui?

...

Era impressionante, ninguém falava nada, essa turma não tinha nem aqueles engraçadinhos fazendo piadinhas com os assuntos da aula. A sala era quente e abafada, todos os alunos estavam se abanando e contávamos apenas com um ventilador ligado na lateral da sala, apenas 3 alunos eram beneficiados por aquele vento seco e abafado que soprava do ventilador, eles eram beneficiados por estarem sentados de frente a ele. Final do horário eu peço aos alunos que elaborem um texto sobre o que eles achavam da ciência em geral, gosto de ver o ponto de vista dos meus alunos antes deles terem as minhas aulas, pra mim ter uma idéia do tipo de aluno que está em minhas mãos. Na hora que os alunos estão elaborando o texto eu comecei a refletir sobre a profissão de um professor, até que tipo de condições os professores tem que se submeter sem fazer nada? Comecei a pensar sobre alguns pontos nessa escola especificamente:

Primeiro: Nos dois dias que entrei na secretaria e dei boa tarde, apenas uma mulher me respondeu, todas as outras pessoas ficaram com as caras fechadas e em silêncio. Que tipo de ambiente de trabalho é esse?

Segundo: Um professor que tem carro não pode ir a esta escola por que os alunos ficam riscando o carro com tampinhas de refrigerante. Que tipo de educação esses alunos estão tendo para chegarem a o ponto de achar isso uma coisa normal? Riscar o carro do professor ou professora?

Terceiro: Estudar em uma sala de aula com apenas um ventilador debaixo de um sol de quase 40°C do lado de fora? Aquilo lá parecia mais um microondas de humanos vivos. Quarto: Fazer um seletivo para lecionar uma matéria e o estado de entrega outras matérias que você não é formado, tem cabimento uma coisa dessas?

Quinto: ficar responsável por seis diários, ou seja, seis turma. Em cada turma com média de quarenta alunos, em todas as salas o professor tem que elaborar provas e corrigi-las, além de lançar notas de todos os alunos, e tudo isso ganhando o salário astronômico de 660 reais. É mole? Por que o concursado ganha em torno de 2.000 reais e o contratado ganha 3 vezes menos? O contratado vai trabalhar 3 vezes menos?

Sexto: eu recebi uma ligação de uma escola com uma proposta de ministrar a metade das aulas que eu estava acertado no contrato e com outra diferença, o salário de mais de 1.000 reais! Aaaa, eu quase me esqueci, nessa outra escola eu lecionaria Biologia.

Pensando em tudo isso, bateu um sentimento de revolta e de frustração, pela primeira vez em 7 anos de sala de aula e me senti frustrado em estar la na frente, olhando para os alunos escreverem e pensando que não teria como eu continuar naquela escola. Não tive coragem de dizer aos alunos que não continuaria sendo seu professor, e olha que eu não conhecia nenhum aluno ali, era o primeiro dia de aula. Até que em um momento eu digo:

- Turma eu vou ali e já volto.

Saio da escola e nunca mais voltei. Sem adeus ou despedidas.

3 comentários:

  1. Achei partes intereçamtes no texto so tem uma coisa que nao gostei foi na hora que vc saio da sala e disse essa palavra >. Turma eu vou ali e já volto. nao foi realista sua resposta porque vc everia muinto bem dar uma explicação pra turma
    tirando esse ponto ai moço poder mandar ver e lançar um livro rsrrs quem saber esse titulo algumas coisas que eu vivii.

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  2. Infelizmente essa é a realidade da maioria das escolas brasileiras, e o pior é o governo agora fazendo propagando usando atores pra falar o tantto que é bom ser professor.

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  3. E mais o que agente poder fazer E a realidade do brasil.
    ja que acontece tudo isso as pessoas deveriam pensar bem antes de ser professor assim pensar em outra profosão ja que vcs professores sofrem tanto.
    eu acho que essa greve nao vai adiantar em nada por isso vou pensar bem em escolher a profisão que eu quero seguir ou seja nao vou ficar sofrendo pedindo aumento se salario, eu se forse eles casaria outras profisão melhor concorda. e mais cada um tem seu sonho blz brodher.

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