- Pelo outro portão garoto, aqui está trancado.
Eu poderia ter voltado até próximo ao asfalto e correr em direção ao outro portão, ou passar correndo por cima de uma parte de capim, onde eu chegaria ao outro portão em um tempo 3 vezes menor, quando eu vi o ônibus entrando no terminal não pensei duas vezes:
“Vou pelo capim, se eu perco aquele ônibus, que horas ira passar outro?
Isso já era 13:35, eu lembro disso pois olhei para o ônibus, para o capim e para o relógio. Olhei novamente para o ônibus e corri, corri e corri mais ainda por cima do capim como se fosse o Zen Bolt, mais no meio do capim aconteceu algo estranho, senti o meu pé direito ficar gelado e logo em seguida o esquerdo, sem entender aquilo eu olho para os meus pés e percebo que estou correndo descalço e de meias pretas, pretas por que ficou pretas por causa da lama preta que o capim camuflava, pois eu tinha calçado naquele dia meias brancas. Olho para a entrada do terminal e o ônibus do campus já tinha entrado e estava parado na parada onde vários pré-vestibulandos se aglomeravam na entrada da porta do ônibus. Olhei novamente para os meus pés e logo em seguida para meus tênis uns dois metros atrás mergulhados em lama preta. A lama nas minhas canelas fez meu coração disparar, eu corri de volta atrás dos meus tênis e os resgatei, correndo novamente pelo capim com lama agora chegando as minhas canelas chego finalmente ao portão, entrego o dinheiro e passo na roleta sem esperar o troco. Mais uma corrida desesperada atrás do ônibus de meias meladas até as canelas juntamente com a minha calça jeans e dois tênis, um em cada mão, jorrando lama preta dentro do terminal, o ônibus parte e eu fico. Dobrei rapidamente em direção ao banheiro do terminal, liguei a torneira e joguei meus tênis e começo a tira o que eu podia de lama e em seguida retirei minhas meias e joguei no lixo do banheiro, levanto uma perna e coloco meu pé dentro da pia e começo a lavar as pernas da calça que também estavam pretas de lama, repito a operação na outra perna e em seguida coloco os pés sem meias no tênis. Parto em direção a parada do campus, a cada passada o tênis jorra lama ao seu redor e finalmente chego a parada do campus sozinho, olho para o relógio e vejo que são 13:45, olho para o horizonte e vejo o mar, penso em tudo que eu deixei de fazer para estar fazendo aquela prova naquele dia. Eu pensava:
“O que diabos eu vou falar para o povo la em casa?”
13:50 o ônibus aparece no horizonte e se dirige ao terminal, entro no ônibus e as 13:59 eu chego em frente ao prédio conhecido como “CT” na UFMA, eu desço sozinho do ônibus e saio correndo até o portão e chegando lá, o vigia estava fechando-o, dei um empurrão no portão que o pobre do vigia quase cai e passei correndo em direção as salas, chegando na minha sala, coloca a cabeça na entrada da porta e vejo a fiscal com as provas na mão pronta para distribuí-las, nessa hora todos olham para mim e eu falo:
- Dona, ainda posso entrar?
- Sim.
Ao passar pelos meus concorrentes, todos olhavam para meus pés e colocavam a mão no nariz discretamente, já tentei por diversas vezes imaginar o que passava por suas mentes nessa hora. Onde eu estava sentado, logo se formou uma poça e exalava um cheiro horrível, mais finalmente estava fazendo minha primeira prova de vestibular. Se eu passei? Não, eu não passei no meio primeiro vestibular. Mais nunca esqueci esse dia.