quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Tecnologia primitiva


O nível tecnológico que temos nos dias de hoje é impressionante, celulares, TV LCD, computadores, jatos de guerra que não podem ser rastreados por radares, sonar altamente potente em navios e submarinos, viagens espaciais, um motor de fórmula 1... Mais tudo isso teve um início. A ferramenta com o registro mais antigo que se tem notícia foi encontrada numa margem de um rio na ilha de Java, que é a segunda maior e a principal ilha da Indonésia. A ferramenta encontrada foi um machado e junto a esse machado tambem foram encontrados restos fossilizados de um hominídeo chamado Homo erectus. Pelos cálculos da ciência essa espécie viveu entre 1,8 milhões de anos e 300 000 anos atrás, num período geológico chamado de Pleistoceno. Mais o que teria levado esse hominídeo a criar essa ferramenta? Seria ultilizada para capturar presas? Seria ultilizado para lutas contra outros homo erectus na defesa de território? Ou seria ultilizado para matar uma esposa infiel? Ou um filhote atentado? Esse pergunta intriga uma parte de cientistas que tenta entender como o nosso cérebro evoluiu e chegou no nivel tecnológico que temos hoje. Alguns pesquisadores perceberam que algumas espécies de primatas elaboram alguns tipos de ferramentas, que são as mesmas encontradas juntas de vários restos de hominídeos. Então, podemos supor que, os mesmos fatores que levam um macaco a fabricar uma ferramenta foram os mesmo fatores que levaram o homo erectus a começar a fabricar as suas. Aqui nas Américas só tem um tipo de macaco que fabrica ferramentas, o macaco-prego. Para a ciência, até o momento, existe sete espécies diferentes de macaco-prego e em três delas ja se tem registro de fabricação de ferramentas. A Ilha de Curupu, que faz parte do município da Raposa no Maranhão, possui mais de 20 km de praias desertas e do outro lado da Ilha é coberta por manguezal, nesse manguezal é encontrado grupos de macacos-prego que usam pedaços de madeira para extrair das raízes do mangue um animal chamado turu, que parece um verme, usado na sua alimentação em determinados períodos do ano. Eu, juntamente com alguns colegas do curso de Biologia resolvemos acompanhar esses macacos nessa ilha durante quase um ano, e uma certa viagem a essa ilha, o grupo era formado por min, Luis Fernando (que está no meio do mangue na foto acima), Bento (de boné vermelho), Mikhail (de blusa azul sem boné) e Raymony Tayllon, o Babú (de boné branco). Chegamos na margem do mangue, após uma longa caminhada pela praia e depois passando pela vegetação que fica depois das dunas chamada Restinga. Começamos então a nos preparar para entra naquele ambiente onde ocorre intensa decomposição de matéria orgânica e exala um odor que muitos não gostam, outros se acostumam e outros não faz a menor diferença. Tiramos as botas, caso contrário atolamos na lama do mangue e as mochilas, para termos mais mobilidade para andar entre as raízes (que na verdade são troncos) do manguezal. Antes de entrarmos no mangue eu disse:
- Pessoal, pendurem suas coisas nos galhos, pois se a maré encher não irá molhar nossas coisas.
- Beleza.
Entramos no mangue, hora pisando na lama hora passando por cima de galhos e troncos de madeira. Em alguns pontos do mangue paramos para ficarmos apenas ouvindo qualquer coisa que possa dar sinal dos primatas. Nessas viagens, algumas vezes podemos registrar alguns comportamentos no mangue, mais nesse dia não conseguimos nem topar com o bando de macacos. O tempo passa, as “mutucas”, insetos chupadores de sangue, não param um só instante e nada dos macacos. Apenas o barulho das árvores do manguezal balançadas pelo vento, o estalo de caranguejos na lama e um palavrão baixo emitidos por um de nos quando topávamos em algo ou quando um caranguejo agarrava alguma parte do nosso pé. Até que eu percebo a maré tomar conta do mangue aos poucos. Nessa hora eu disse:
- Saca só galera como a maré enche rápido, há poucos minutos a água estava cobrindo meu pé, agora já está acima do joelho.
- Melhor voltarmos antes que a maré encha de vez.
- Beleza.
Caminho de volta e a maré enchendo mais e mais, até que a água já estava na nossa cintura, nessa hora eu percebi que tinha a possibilidade de termos que nadar alguns trechos, pois estava subindo muito rápido. Foi quando eu perguntei:
- Todo mundo aqui sabe nadar não é?
- Relaxa pó, eu sei. Tranqüilo. Foi o que o Babú respondeu.
- Comigo também não tem problema não. Essa foi a resposta do Mikhai.
- Rapaz faz tempo que eu nadei, mas dou conta. Bento.
Nessa hora, Luis Fernando fala o que ninguém acreditou, ou melhor, acreditamos e quase morremos de sorrir.
- Eu to fudido, eu não sei não.
- Puta que pariu. Fala sério, o mais alto não sabe nadar, moço...Acho que ninguém aqui dá conta de te carregar não. Kkkkkkkkkkkkkkkkkk. Foi as minhas palavras de consolo ao Fernando.
- kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk (Babú)
- kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk (Mikhail)
- kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk (Bento)
Até que chegamos ao local onde havíamos colocado nossas coisas, sem ter precisado carregar Luis Fernando. Mais o que vimos não foi nada agradável. Algumas mochilas boiando e botas debaixo d´agua. Uma das mochilas era a do Babú, nessa hora ele entra em desespero:
- Puta que pariu.
Ele pega a mochila toda molhada e começa a procurar desesperadamente algo, até que encontra:
- Caralho, o celular do meu irmão que eu peguei emprestado já era e o meu também. Cara e eu nem terminei de pagar essa porra ainda.
A alguns metros do desespero do nosso amigo Babú, Luis Fernando fala feliz da vida:
- Cara ainda bem que minha caneta da sorte não molhou...rsrsrssr.
- Vai tomar no cú porra. (Babú)
No auge do desespero, Babú pegou uma espécie de estojo que estava cheio de papeis e ele diz:
- Poxa pelo menos isso aqui não molhou.
Parecia um castigo divino, nesse exato momento aconteceu o inacreditável, na hora que ele terminar de dizer o estojo cai da mão dele direto para o fundo da água e molha todos os papeis. Ele começa a jogar tudo fora, falando palavras nada educadas e espalhando vários objetos e papéis no mangue. Mikhail tenta usar sua consciência biológica e diz:
- Tayllon não suja o mangue pô, sabe que isso é prejudici...
- Vai se fuder tu é o mangue, to nem aí
Não sei por que, mais nos, como amigos do nosso querido Babú, ao invés de darmos um certo apoio, só conseguíamos ficar sorrindo daquele acontecimento. Pegamos nossas coisas molhadas e voltamos para casa. Será que daqui a algumas centenas de milhares de anos, cinco macacos irão passar pelo que passamos naquele dia? Babú continuou pagando o celular e visitando o bando de macacos no mangue, mais depois desse dia ele nunca mais levou estojo, celular ou nada eletrônico para as nossas idas no mangue.

domingo, 19 de setembro de 2010

Qual seu sonho?


Rafael Mattos Lindoso é o nome desse elemento que ta ao meu lado esquerdo na foto acima, do lado direito está passando um velhinho “Robert” e logo abaixo de nos está os restos fossilizados do maior carnívoro terrestre que a ciência tem notícia, ele foi descoberto e divulgado para o mundo na revista Nature recentemente, em 1995. Foi um dinossauro que chegava a medir 13 m de comprimento, com seu peso variando entre 9 a 14 toneladas de muito músculo. Entre os dinossauros carnívoros, sem sombra de dúvida, o T-Rex é a grande estrela e o mais famoso, o Gigantosauro causou grande expando na época de sua descoberta por que ele era justamente maior que o lendário Tiranossauro rex, esse tamanho todo levou a vários produtores o colocarem em alguns documentários como:Walking With Dinosaurus Special - Chased by Dinosaurus da BBC e Dinosaurus: Giants of Patagonia da IMAX, mais mesmo assim nada disso foi suficiente para esse dinossauro Latino americano ter a popularidade que o seu colega T-Rex norte americano. Ambos viveram num perído chamado cretáceo, que é o ultimo período da era Mesozóica conhecida como “A era dos répteis”. Mais até chegarmos a esta foto, uma certa vez eu estava com Rafael Lindoso no museu de Paleontologia em São Luís, que fica localizado no centro histórico da cidade. E fiz a senguinte pergunta:
- Rafael como foi que tu conheceu esse museu?
- Eu vi num jornal.
- Ai tu começou a frequentar aqui?
- Foi. E não aprei mais.
- Desde quando?
- Rapaz, quando eu começei a vir pra ca, eu ainda estava no ensino médio.
E foi assim que o pequeno e franzino jovem estudante de ensino médio teve o seu contato com o centro de pesquisa no Maranhão que se dedicava a estudar fósseis. Durante o esino médio Rafael Lindoso trocou e-mails com paleontólogos renomados de diversas partes do mundo, alguns deles inclusive chegou a lhe enviar material como jornais e revistas sobre dinossauros e outros animais fossilizados. Rafael ficava a cada dia mais encantado com aquele mundo petrificado. Por três vezes ele tenta passar no vestibular para cursar Ciências Biológicas na UFMA, e em todas ele não passa da segunda etapa. Em uma dessas, eu conversei com ele:
- E ai Rafael será que esse ano dá?
- Cara, não sei passei denovo na primeira etapa , mais passei la em baixo.
- Hum, sei, mais tenta cara. O importante é não desistir.
- O que me mata são as provas de cálculos, eu me dou mal todas as vezes em Matemática, física e principalemente química.
A reprovação três vezes no vestibular não foram suficientes para o jovem desistir de ser um Paleontólogo, ele ingressou no curso de Biologia de uma Faculdade particular e como estudante de biologia participou de algumas explorações, uma delas foi na Ilha do Cajual, uma ilha situada próxima à cidade de Alcântara que tem uma grande concentração de fósseis. A grande quantdade de fósseis dessa ilha foi descoberta em 1995 e todos os anos tem sido realizadas expedições para à procura de mais fósseis. De todas as partes da ilha a parte sul da ilha nunca tinha sido explorada, devido as dificuldades de chegar a sua extremidade, pois essa parte da ilha é protegida por uma enseada que passa a maior parte do tempo submersa, quando a maré recua, só temos 30 minutos para ficarmos na parte Sul da ilha até a maré cobrir totalmente o local onde provavelmente teria fósseis. Durante anos, várias pessoas , inclusive o Paleontólogo Manoel Alfredo Medeiros tentou essa atravessia, mais até hoje dois grupos de pesssoas consegiu chegar na parte Sul da ilha. O primeiro grupo era formado por min, Ronny Barros e Rafael Lindoso, mais essa história eu conto outro dia. Na cidade de Brejo, que fica localizada na fronteira do Maranhão com o Piauí, as margens do Rio Parnaíba, quase no Delta do Parnaíba, foi encontrado um sítio fossilífero repleto de peixes, artrópodes e restos de plantas fossilizados, nessa expedição, mais uma vez eu e Rafael Lindoso tivemos a oportunidade de participar. Naquela ocasião o Paleontólogo Manoel Alfredo Medeiros me fez a seguinte proposta:
- Emílio, tu não quer tomar de conta das expedições aqui em Brejo?
- Não sei, vou pensar.
- Olha, aqui tem material que dar um mestrado e muito provavelmente um doutorado em Paleontologia.
- Vou pensar.
Eu pensei e recusei, não era muito “a minha praia” estudar peixes e artrópodes fossilizados, nem a do Rafael Lindoso que era apaixonado por dinossauros. Mais como não apareceu nenhum novo dinossauro no Maranhão enquanto o Lindoso foi estudante, ele acabou assumindo as expedições em Brejo e se dedicou a fazer a prova de mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro/ Museu nacional e o resultado? Passou entre as primeiras colocações no Programa de Pós-graduação em Geologia no instituto de Geociências da UFRJ. Daqui a menos de um ano ele será mais um paleontólogo no Brasil e um jovem com seu sonho realizado. E quanto à foto, foi tirada no museu Paleontologico Ernesto Bachmann localizado na cidade de Neuquen, Patagônia. O museu foi erguido em cima dos restos fossilizados do Gigantossauro, grande idéia essa. Para uma vida ter sentido é preciso sonhar acordado, por que nem sempre agente lembra do que sonhou na noite anterior, então estipule metas na vida e corra atrás, e se não chegar, você irá perceber que valeu a pena ter tentado.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sobrenatural


AVISO
(Para preservar as pessoas envolvidas no episódio abaixo, resolvi não mencionar nenhum nome)

A foto a cima é uma base de estudos da Universidade Federal do Maranhão que abrigou estudantes de diversas áreas da biologia. Está localizada próxima a cidade de Urbano Santos, numa área de Cerrado maranhense. Eu não sei se ainda está ativa, mais durante todos os anos que fui aluno do curso de Ciências Biológicas, vários grupos de estudantes desenvolveram pesquisas, beberam bebidas alcoólicas, contaram boas piadas, contaram piadas infames, despertaram mais amor pela sua área de estudo ou odiaram as idas para campo nesse local. Em um dia ensolarado, um grupo de estudantes praticava um método de estudo chamado “procura ativa”, é um método que uma pessoa procura ativamente na mata, durante um determinado tempo, algum animal. Esse grupo específico, procurava anfíbios e répteis em determinadas trilhas já marcadas. O dia fazia muito sol, a procura é proveitosa, alguns animais são encontrados. Alem desse método de encontrar esses animais, o grupo colocou armadilhas espalhadas em pontos específicos da área da fazenda. Essas armadilhas são visitadas e as vezes algum anfíbio, lagarto ou uma pequena serpente é capturada, é um método chamado de armadilhas de interceptação e queda (pitfall). Não confundir com o jogo eletrônico lançado para o video game Atari em 1982 onde controlamos o personagem Pitfall Harry através de uma floresta em forma de labirinto tentando recuperar vários tesouros em determinado tempo. Quem trabalha estudando anfíbios e répteis é chamado de Herpetólogo, e esse profissional tem que procurar esses animais tando de dia como a noite, por isso é uma área da biologia que requer muita dedicação, paciência e tem que gostar muito de estar na mata. A noite chega, é um céu sem estrelas e sem lua, hum herpetólogo não entra na mata em dias de lua, pois a claridade desse astro inibi a saída de alguns animais de suas tocas. Os ventos alísios de nordeste trazem uma corrente de ar fria, as árvores estão se movendo lentamente.
- Todos prontos?
- Sim, está todo mundo de botas 7 léguas, calça jeans, lanterna e facão.
- Vamos então, silencio a partir de agora.
O grupo entra na mata, cada um no seu percuso, o que se ouvena mata depende da estação, a vocalização de alguns sapos e perecas, em rituais de acasalamento e defesa de território, é ouvido apenas em épocas de chuva. As lanternas procuram ativamente por esses animais, animal encontrado, animal registrado. Dependendo da espécies alguns são capturados outros não, em alguns pontos das trilhas da de se ouvir o barulho das águas calmas do Rio Mocambo, esse rio que mais parece um riacho refrescou inúmeros estudantes em fins de tarde. Essas saídas no campo provocavam divesas reações dependendo do horário, alguns não sentiam nada, outros quando se aproximavam do rio sentiam vontade de “pássar um fax” (cagar) no meio do mato . Um grande colega meu me disse que gostava de andar sozinho, ficava viajando como se fosse um bicho selvagem ali, sabia onde tinha ninhos de certas espécies de vespas, de aves, onde encontrava certas espécies de lagartos, esse cara tem até vontade de ganhar uma boa grana e comprar a fazenda para ir pra lá passar umas duas semanas por semestre, uma temporada na estação chuvosa e outra na estação seca do ano. Tudo isso para poder apreciar as peculiaridades de cada tempo e as variações do ambiente ao longo das estações. Sempre que aparecia um marinheiro de primeira viajem pegava alguns sustos com o barulho das árvores rangendo ou uma coruja em seu canto cavernoso rasgando o silêncio da mata escura e fria. Fim do tempo de procura ativa, todos retornam a base, conversas fiadas pra cá, conversar pra lá, algumas vezes uma discussão um pouco mais séria sobre um artigo científico publicado em uma revista especializada no assunto, e nesse dia especificamente estão todos sentados na varanda da casa e um barulho de algo correndo na mata chama atenção de todos:
- O que é aquilo?
Todos olham na mesma direção e o que se vê são as folhas de arbustos sacudirem de forma intensa, como se algo estivesse fugindo mata adentro. Todos que estão ali observam algo de menos de um metro de altura ir pelas matas em direção ao Rio Mocambo.
- Pega uma lanterna, eu vou com uma e tu com outra.
- O que tu acha que é aquilo?
- Deve ser uma raposa, vamos la conferir.
Uma das meninas que estavam no grupo diz:
- Deixa isso pra lá. Biólogo é bicho doido mesmo, não pode ver um bicho no mato que sai correndo pra ver.
- Fiquem ai, agente vai lá rapidinho.
Saíram os dois pela trilha que leva ao rio, escuro total, o que se dava pra ver era onde batia a luz da lanterna, a noite estava fria e sem chuva, nenhuma vocalização de anfíbios, nada de grilos, o que se ouvia era os passos apressados de dois jovens atrás de algo que ninguém sabia o que era. Durante o percurso, outra corrida do animal e os dois jovens param.
- Espera aí.
- Olha lá.
- Vamos fazer o seguinte, eu vou pela esquerda e subo em cima do morro na beira do rio e tu vai pela direita, agente vai com as lanternas apagadas, ligamos ao mesmo tempo ao meu sinal.
- Beleza.
Assim foi feito, eles chegaram ao rio e se posicionaram, um ficou em uma ribanceira nas margens do rio e outro subiu até a metade de uma árvore que ficava na beira do rio, ambos se olham e dão um sinal com a cabeça de que é a hora de ligarem a lanterna onde os arbustos tinham se agitado pela última vez, quando ambos ligam a lanterna eles dão de cara com algo que iria mudar suas vidas a partir daquele dia, a pupila de ambos se dilata, o coração dispara e muito sangue é bombeado pelas artérias a várias partes do corpo, os sentidos ficam mais aguçados, pelos ficam eriçados, todos esses sintomas são sinais de alerta que o corpo emitem sempre que estamos em perigo, uma verdadeira descarga de adrenalina. Eles não acreditam no que estão olhando, um olha para o outro para ter certeza de que o seu companheiro esta vendo a mesma coisa, e os dois se vem bastante assustado, olham novamente para as margens do rio e com a luz da lanterna focando aquilo que outrora passava por arbustos, viram uma pessoa da cintura para baixo, ou seja, duas pernas humanas muito branca sem o tronco. Essas pernas começam a correr e os dois acompanham a corrida com o foco da lanterna, é uma corrida na beira do rio, pingos são lançados no ar a cada passada e os dois amigos levantam a lanterna de cima a baixo e não conseguem ver o corpo, somente duas pernas humanas muito branca correndo nas margens do rio a menos de trinta metros deles, que entra na mata e o silêncio reina mais uma vez na mata, o que se ouve mais uma vez são as árvores rangendo devido ao vento da madrugada.
- Tu viu o que eu vi?
- Vi sim
- O que era aquilo?
- sei lá
Os dois retornam a base em silêncio. E ouvi as pessoas perguntarem:
- O que era que passou correndo aqui?
- Nada não.
-Como nada?
- Nada, vamos dormi.
Todos entram sem entender, mais estava estampado no rosto de ambos o que viram não foi algo natural. Estavam pálidos, trêmulos, olhos esbugalhados. Nenhum dos dois continuou fazendo trabalhos de campo, abandonaram o campo, mudaram suas vidas, hoje essas duas pessoas fazem coisas totalmente diferente do que faziam antes desse dia. Quando eu lembro desse fato, me recordo sempre a uma frase de William Shakespeare, onde ele diz que: “Existem mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia." Realmente, determinadas situações e lugares mudam o rumo de nossas vidas e idéias que temos.

domingo, 5 de setembro de 2010

Buenos Aires


Um poeta já falou vendo um homem em seu caminho: “O lar do passarinho é o AR e não o ninho” e eu voei...e conheci nossos vizinhos hermanos na Argentina. Nessa viajem, antes de tocarmos o solo argentino entramos num tubo que fazia a ligação entre o avião e o salão do aeroporto, nesse caminho já dava pra sentir a diferença de temperatura entre os 21 °C de dentro do avião e os 10 °C do lado de fora. Nessa descida, meu colega Rafael Lindoso fez uma colocação nada feliz de um típico nordestino acostumado com temperaturas médias de 32°C.
- Caramba, o ar condicionado aqui nesse aeroporto é potente.
- Rafael, essa é a temperatura aqui na Argentina agora, não é ar condicionado.
- Tu é louco? Isso é o ar condicionado do aeroporto.
Entramos no salão de desembarque e fomos direto para a porta do aeroporto, deixamos as malas e mochilas e fui procurar um caixa para realizarmos nosso primeiro saque de dinheiro em território estrangeiro. Engraçado, eu perdia 2,5 dólares de imposto por saque realizado. Eu percebi isso quando saquei duas vezes e percebi que tinha perdido quase vinte reais do dinheiro que estava na minha conta. Retorno ao aeroporto e a essa altura todos percebem que não tinha ar condicionado no aeroporto era na verdade um aquecedor, do lado de fora do aeroporto era que estava realmente frio. De táxi fomos até um albergue, acertado as contas e demos uma volta na vizinhança para nos familiarizarmos com o bairro Palermo. Ronny Barros decide ir com sua camisa do São Paulo Futebol Clube, no fim do dia com a temperatura já bem baixa, Ronny treme mais que vara verde, implorando o tempo todo para voltarmos para o albergue pois estava morrendo de frio, quase congelando. Voltamos para o albergue, banho quente, aquecedor ligado no quarto, noite tranqüila. Amanhece o dia:
- Vamos conhecer Buenos Aires ????
- Na hora.
Após tomar um café da manhã bastante reforçado, pegamos um mapa da cidade com os principais pontos turísticos da cidade, vimos que o metrô seria a opção mais viável, pois era barato e rápido. Pra quem nunca foi a Buenos Aires, o sistema de metrô da cidade, inaugurado em 1913, é o mais antigo da América Latina e de todo o Hemisfério Sul, você pode conhecer os quatro cantos da cidade pagando em média o equivalente a menos de cinco reais. Pois cada viajem custa apenas alguns centavos, sabendo disso e que cada saque realizado pagávamos 2,5 dólares de imposto, eu resolvi sacar todo o dinheiro que eu tinha na minha conta. Saque realizado, dinheiro na carteira, partimos para o metrô que na Argentina chama-se “subte”. O metrô de Buenos Aires é impressionante, é possível encontrar em suas instalações pinturas e murais originais e reproduções de diversos artistas alem de apresentações de música ao vivo. Nas escavações dos túneis, foram encontrados restos de mamute, mastodonto e de gliptodontes (mamífero extinto, membro da ordem Xenarthra ancestral dos atuais tatus, media cerca de 3 metros de comprimento e pesava cerca de 1,4 toneladas, sendo equivalente em forma e tamanho a um Volkswagen Fusca) todos estes restos de animais pré-históricos estão expostos na estação Juramento e na estação do Tronador. A Grande Buenos Aires é a terceira maior aglomeração urbana da América Latina, com uma população de mais de 13 milhões de habitantes e entre tantos argentinos, um malandro ou malandra, eu não sei quem foi, mete a mão no bolso da minha calça e leva minha carteira, com uma destreza e agilidade que impressionaria qualquer marginal da praça da Sé em São Paulo. Eu simplesmente não senti nada, pelo menos nos dois minutos que se passaram entre uma estação e outra. Ou melhor, eu senti muito foi depois, ao perceber que não tinha carteira e junto com a carteira foi embora, todo o meu dinheiro, meu cartão da caixa econômica, o outro cartão do Banco do Brasil, todos os meus documentos (identidade, CPF, Reservista), minha carteira de doador de sangue da Hemomar, minha carteira de alberguista e minha carteira de estudante.
- Ei pessoal, roubaram minha carteira.
O desespero toma conta do pessoal e eu não sei por que nessa hora, comecei a sorrir. E pensei: “ no final vai dar tudo certo”. Fomos à polícia do metrô, tentativa em vão, eles me orientaram a procurar a polícia federal, enquanto um policial argentino me explicava como eu deveria proceder, um colega dele também policial fazia boca de riso. O que será que este argentino pensou nessa hora? “Se fudeu brasileiro, hahahahaahah” devia ser algo do tipo. Na polícia federal também não foi diferente, ou melhor, foi pior.
- Buenos dias.
- Buenos.
- Eu vim prestar uma ocorrência de roubo, eu fui assaltado no metrô.
- São 10 pesos senhor, pra registrar uma ocorrência.
- O que? 10 pesos? Mais eu fui assaltado e levaram todo o meu dinheiro.
- Eu lamento senhor.
Da para acreditar numa coisa dessas? Eu pensei que era um argentino querendo se dar bem em cima de uma desgraça de um brasileiro, mais nessa hora chegou um argentino que também estava La por que tinha acabado de ser assaltado e o policial diz:
- São 10 pesos senhor, pra registrar uma ocorrência.
Nessa hora pude acreditar no inacreditável, para minha sorte, meus amigos me emprestaram dinheiro e registrei a ocorrência, de lá fui até a embaixada brasileira na argentina e mostrei a ocorrência, isso era necessário para poder tirar um documento para sair da Argentina. O pior que não bastava apenas o registro da ocorrência, nessas situações, você tem que ter mais duas testemunhas que conhece onde você mora, para minha sorte, eu andava com minha namorada (Mayra Nina) e meus colegas (Ronny Barros e Flavinha). E se eu estivesse andando na cidade sozinho e acontecesse isso? Não quero nem imaginar uma situação dessas, ou quem já passou por isso. Depois de passar alguns dias Argentina vivenciando uma outra cultura e uma outra moeda, posso dizer que agora eu sou um poeta vendo um homem a caminhar e digo que: “O lar de um passarinho é o NINHO e não o ar” e eu voltei... para o meu bom e maravilhoso Brasil.